A Cannabis como uma alternativa no tratamento do autismo

A Cannabis como uma alternativa no tratamento do autismo

Já ouviu falar que a Cannabis pode ajudar no tratamento do autismo?

Pois bem, para você entender um pouco mais sobre essa opção terapêutica, neste artigo falaremos sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA), sua relação com o Sistema Endocanabinoide e o uso da Cannabis como uma ferramenta farmacológica promissora.

Atualmente, o principal manejo do TEA se dá através de medicações com foco nos sintomas, que apresenta limitações em torno da eficácia e controle da doença. Além disso, geram efeitos colaterais visíveis e muitas crianças não conseguem se adaptar a terapia convencional.

O uso do canabidiol surge como uma ferramenta farmacológica que traz esperança nesse contexto, uma vez que a cada dia surgem mais estudos sobre esse tema, com resultados positivos.

Para começarmos, vamos entender um pouco sobre a doença.

O que é o Transtorno do Espectro Autismo?

É uma disfunção neurológica crônica e pode ser classificada como um grupo de transtornos ou déficits do desenvolvimento cerebral. Possui base genética que se manifesta na infância, principalmente nos primeiros 5 anos de vida com tendência a persistir na adolescência e idade adulta.

 

Se baseia na interação social da criança e na tríade de Wing:

  • Comunicação
  • Flexibilidade
  • Imaginação

E por que é chamado de “espectro?”

Devido à gama de sintomas, habilidades e níveis de deficiência ou incapacidade que as crianças podem apresentar com essa patologia.

Elas possuem traços comportamentais atípicos, como interesses restritos, comportamentos repetitivos e dificuldades de interação com os outros.

Esse termo também descreve a gravidade do autismo, que vai de alto funcionamento até deficiência não verbal e intelectual grave.

Está associado a outras comorbidades…

Aproximadamente 20% das pessoas com TEA apresentam comorbidades associadas, como epilepsia, problemas gastrointestinais, ansiedade, transtorno do déficit de atenção e hiperatividade, distúrbios do sono e dificuldade de alimentação.

Sobre o tratamento tradicional

Hoje, o tratamento farmacológico instituído não cura o TEA, ele é focado em diminuir os sintomas, principalmente os relacionados ao comportamento. E associado a isso, temos as intervenções educacionais, como as terapias.

Pontos importantes sobre o tratamento:

– Os medicamentos são utilizados com intuito de abordar um comportamento específico, por exemplo as crianças que se automutilam e são muito agressivas. Dessa forma, minimizando um sintoma ela consegue interagir melhor, se concentrar mais na comunicação e no aprendizado;

–  Medicamentos convencionais utilizados são os antipsicóticos (risperidona e periciazina), inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRSs) e psicoestimulantes; inicialmente a medicação pode piorar os sintomas ou demorar semanas para iniciar o efeito. As doses e combinações são individualizadas.

– Associar a terapia comportamental aos medicamentos possui mais eficácia;

E a Relação do Tea com Sistema Endocanabinoide

Fonte: Freepik

Saber a relação é importante, pois fornece uma abordagem terapêutica mais ampla. Esse sistema encontrado nos mamíferos é responsável pela homeostase do corpo, para mais, é capaz de modular respostas emocionais, interação social e comportamentos. Ele desempenha um papel fundamental no neurodesenvolvimento, reforçando sua associação com autismo.

Abaixo, explicaremos os pontos principais sobre esse Sistema.

Ele é composto por 2 receptores: CB1 e CB2, pelos endocanabinóides (substâncias produzidas pelo próprio corpo que ativam os receptores CB1 e CB2) e as enzimas responsáveis pela produção e degradação.

As substâncias produzidas pelo organismo, são chamadas de endocanabinoides endógenos, como por exemplo a 2-AG e a anandamida. Elas se ligam aos receptores CB1 e garantem um equilíbrio na atividade neuronal.

É possível que pessoas com TEA possuem um desequilíbrio no Sistema Endocanabinoide.

Pesquisas científicas evidenciam que crianças com autismo comparadas com crianças neurotípicas, apresentam níveis sanguíneos mais baixos de anandamida. Isso indica um desbalanço na produção dos endocanabinoides que pode estar associado diretamente com a etiologia e ou evolução da doença.

A Cannabis Como Forma Terapêutica

Fonte: Envato – vanenunes

O CBD e outras substâncias encontradas na Cannabis conseguem interagir com esse sistema modulando a neuroplasticidade e regiões que são frequentemente alteradas nos autistas como:

– cognição,

– respostas emocionais

– codificação e o processamento dos estímulos ambientais físicos e químicos ou patológicos que resultam na dor – a nocicepção.

Como já foi explicado acima, a terapia farmacológica convencional, utiliza as drogas com foco nos sintomas alvos, como agressividade, irritabilidade, ansiedade, distúrbios do sono, entre outros, e não sobre exatamente a fisiopatologia do TEA.

Pesquisas voltadas para o autismo começam a sugerir um desequilíbrio de neurotransmissores (NT) do sistema nervoso: o glutamato e o GABA. O glutamato é um NT excitatório e o GABA que possui característica inibitório. Isso pode contribuir para a explicação de características comportamentais do TEA, como ansiedade, irritabilidade e distúrbios do sono por exemplo.

Estudos clínicos demonstram que o CBD pode ajudar na parte comportamental, diminuindo a hiperatividade e a autolesão. Além disso, demonstra ser uma opção bem tolerada pelos pacientes, não apresentando tantos efeitos colaterais comparado com os antipsicóticos, psicoestimulantes e antidepressivos.

Um estudo observacional brasileiro foi publicado em 2019 sobre os efeitos do extrato de Cannabis sativa enriquecido com CBD padronizado (com uma proporção de CBD para THC de 75/1) nos sintomas do TEA. Concluiu-se:

-15 pacientes que aderiram ao tratamento (10 não epilépticos e cinco epilépticos);

– Apenas 1 paciente apresentou falta de melhora dos sintomas;

– Após 6-9 meses de tratamento, a maioria dos pacientes, incluindo epilépticos e não epilépticos, apresentou algum nível de melhora em mais de uma das oito categorias de sintomas avaliadas:

  1. Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade;
  2. Distúrbios Comportamentais; 
  3. Déficits Motores;
  4. Déficits de Autonomia; 
  5. Déficits de Comunicação;
  6. Interação Social; 
  7. Déficits Cognitivos;
  8. Distúrbios do sono e convulsões;

Apesar o “n” de participantes ser pequeno, a pesquisa concluiu que 10 dos 15 pacientes que faziam uso de medicamentos tradicionais, 9 conseguiram manter melhorias após retirada dessas medicações ou mesmo após redução de doses. Os resultados são promissores e indicando que o CBD e o THC podem ajudar nos sintomas do TEA, mesmo naqueles pacientes que não possuem epilepsia, melhorando a qualidade de suas vidas e controle da doença.

Um outro estudo randomizado e controlado por placebo alegou que uma única dose de CBD melhorou o reconhecimento facial emocional de indivíduos autistas, que possuem dificuldades de reconhecer suas emoções.

Esse termo também descreve a gravidade do autismo, que vai de alto funcionamento até deficiência não verbal e intelectual grave.

No estudo “Experiência da vida real do tratamento medicinal com cannabis no autismo: análise de segurança e eficácia”, foi citado que após administrações de THC pacientes relataram melhora na ansiedade, angústia e depressão. Além disso, foi relatado que a cannabis melhora a comunicação interpessoal e diminui agressividade dentro de grupos.

Ainda nessa publicação, foi mostrado que pacientes com TEA que fazem um tratamento enriquecido com CBD podem melhorar sintomas comportamentais, demonstrando sua atividade ansiolítica. Esse composto é capaz de aumentar a atividade cerebral no córtex cingulado posterior direito, região cerebral que está envolvida no processamento de emoções.

Embora muitos estudos sobre o TEA e a Cannabis estejam em desenvolvimento ou ainda não ocupam o topo da pirâmide com o maior grau de evidência, como as revisões sistemáticas, os estudos científicos publicados são promissores quanto ao tratamento e a melhora na qualidade de vida dos pacientes, além disso, parecem serem seguros com efeitos colaterais moderados e “fáceis” de lidar.

Salienta-se que a dosagem é sempre individualizada e o médico responsável deve ser bem instruído no acompanhamento do paciente, explicando aos pais sobre a adesão e efeitos adversos/colaterais, assim como manejo dos próprios.

Uma observação…

O Conselho Federal de Medicina (CFM) publicou uma resolução no dia 14 de outubro de 2022, de número 2.324/2022, que limitava o uso do canabidiol para o tratamento de epilepsias da criança e do adolescente refratárias às terapias convencionais na Síndrome de Dravet e Lennox – Gastaut e no Complexo de Esclerose Tuberosa.

Após 10 dias dessa publicação, o CFM voltou atrás da decisão e suspendeu a resolução. No entanto, abriu uma consulta pública com intuito de ouvir a população sobre esse tema polêmico.

A PIXUA é uma empresa preocupada com sua clientela, por isso deixaremos o link abaixo, para que você possa participar dessa pesquisa, mandando sugestões para o Conselho, que receberá os formulários até o dia 23 de dezembro de 2022. Faça a sua contribuição, para que a resolução seja revista e mais pessoas se beneficiem com o uso da Cannabis medicinal.

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