Quando falamos em insônia, muitas pessoas já conhecem essa condição ou podem ter experienciado. O termo “insônia” é usado de diferentes maneiras pela população e na literatura médica, sendo comumente utilizado por ambos para definir a dificuldade de um indivíduo para dormir. Algumas associações feitas com esse conceito são os despertares noturnos frequentes, a longa latência do sono, períodos prolongados de vigília durante o período de sono e despertares transitórios frequentes.
As duas classificações mais relevantes nesse contexto foram feitas pelo Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais - 5ª edição e pela Classificação Internacional de Distúrbios do Sono - 3ª edição.
A literatura baseada nessas duas classificações apontam um perfil sintomático para a insônia como patologia, que abrange a dificuldade de iniciar e manter o sono, gerando consequências e prejuízo funcional durante o dia. A frequência determinante dessa patologia é de pelo menos três vezes por semana, persistindo por três meses ou mais. De acordo com estudos da FIOCRUZ, 72% dos brasileiros sofrem de doenças relacionadas ao sono, incluindo a insônia, enquanto no mundo, 30% da população em geral é afetada pela insônia crônica. Devemos ter ciência de que, mesmo que as causas possam divergir em cada indivíduo, como questões clínicas, problemas emocionais e outros, esses distúrbios geram problemáticas manifestadas por alterações na saúde física e/ou mental e social, impactando diretamente na qualidade de vida do indivíduo.
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Estudos já demonstraram que a insônia é um fator preditor para o desenvolvimento de problemas psicológicos como ansiedade, depressão, transtorno bipolar e abuso de substâncias. Não somente para essas condições, há também pesquisas que indicam que a insônia diminui os limiares de dor, diminui a função imune e aumenta a suscetibilidade de pessoas com doenças crônicas adquirirem resfriados ou gripes. Por conseguinte, devemos dar a devida importância e reconhecer os potenciais danosos, para então também levar a sério seus tratamentos e alternativas.
Como já é sabido, o sistema endocanabinoide está envolvido no ritmo e regulação do ciclo circadiano. Esse sistema possui receptores (CB1 e CB2) que podem ser ativados tanto pelos endocanabinoides como a anandamida e o 2-AG (2-araquidonoilglicerol), quanto pelo CBD e THC. Já foi demonstrado que o uso de produtos à base de cannabis induz os dois grandes grupos do ciclo do sono: o sono REM (movimento rápido dos olhos) e o sono não REM.
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É importante lembrar que o sono REM está associado à consolidação de aprendizado e memória, enquanto o sono não REM está relacionado à cognição do sono, consolidação de memória declarativa e é importante para funções fisiológicas (restauração de energia, regulação hormonal, limpeza de metabólitos e imunidade).
Ao compararmos com alternativas atuais, os produtos à base de cannabis se mostram promissores por melhorarem a qualidade do sono e por não terem os efeitos colaterais de outros tratamentos comuns, como por exemplo o diazepam. Este medicamento pode causar sedação e amnésia no paciente, ou então alucinações, pesadelos e depressão, que são reações adversas comuns indicadas na própria bula do Zolpidem. Além disso, muitas das alternativas usadas atualmente para o tratamento da insônia podem causar efeitos de abstinência ou tolerância. Por isso, é imprescindível que o indivíduo afetado pela insônia tenha suas dúvidas esclarecidas por um profissional da área antes de optar por qualquer tratamento. Busque um doutor especialista em cannabis medicinal! Com certeza ele irá te auxiliar.
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Ao despir os produtos à base de cannabis do preconceito e dos mitos que os cercam, podemos entender que eles podem ser uma alternativa com ação promissora, não invasiva e menos prejudicial do que as alternativas convencionais. Dada a complexidade e complicações desse tema, não podemos permitir que a relevância dessa patologia seja negligenciada e continue afetando uma grande parte da população que muitas vezes, por falta de conhecimento, não recorre a um especialista e nem reconhece o quanto está sendo afetada.
Todos os estudos podem ser encontrados nessa revisão e meta análise que inclui outros artigos que também foram usados para consulta:
- https://doi.org/10.1007/s40263-020-00773-x (possui 53 referências)
Artigos mais consultados:
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Roth T. Insomnia: defnition, prevalence, etiology, and consequences. J Clin Sleep Med. 2007; 3:3–6.
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Taylor DJ, Mallory LJ, Lichstein KL, Durrence HH, Riedel BW, Bush AJ. Comorbidity of chronic insomnia with medical problems. Sleep. 2007; 30:213–8.
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Valentino RJ, Volkow ND. Drugs, sleep, and the addicted brain. Neuropsychopharmacology. 2020 Jan;45(1):3-5. doi: 10.1038/s41386-019-0465-x. Epub 2019 Jul 16. PMID: 31311031; PMCID: PMC6879727.